Não sei o que é linha de
impedimento, mas sei o que são as linhas de expressão que se formam no rosto de
um torcedor ao soltar o grito de gol.
Sou argentina. Em meu sangue
correm as águas do Rio de La Plata em ritmo de tango. As sementes de minhas
raízes foram plantadas em Boedo, bairro de tango, tradição, de senhores e
senhoras sentados na porta de suas casas no final da tarde para uma conversa
descompromissada tomando “unos mates”. Bairro
com cheiro de lembranças, de casas simples e da paixão por San Lorenzo de
Almagro. Meu time, time da minha família.
Foi nesse bairro que carrega tão
claramente a leveza e o peso de ser portenho que vivi um dos melhores anos de
minha vida. Foi em uma casinha Amarela na Rua Estados Unidos que descobri,
enfim o peso da palavra família. Éramos
doze meninas vindas de diferentes lugares, com sonhos ainda escritos no papel e
vontade de devorar o mundo. Nesse antigo casarão transformado em republica que
encontrei onze irmãs. Elas merecem um capitulo a parte em minha vida, pois o
que vivi ao lado delas ainda não sei colocar em palavras, mesmo tendo se
passado tanto tempo.
Meu avô nasceu em Boedo e o
escudo do San Lorenzo de Almagro é o brasão da minha família. Não apenas da
minha, mas de tantas outras que vejo nos estádios cantando juntas e se
abraçando com um calor inexplicável a cada gol a cada vitória ou a cada
derrota. De futebol eu realmente não entendo, mas de tradição sim. E está no
sangue de “los cuervos” a herança deixada de pai para filho. Se olharem com
atenção para essa torcida azul e vermelha encontrará no meio de tantos outros fanáticos
o presidente “Del ciclon”. Ele está ali no meio da massa, torcendo e gritando.
Ele sai junto com a torcida e abraça cada um dos tantos cuervos com a ternura
de irmãos distantes que tem algo em
comum. A paixão pela tradição, pela família, pelo futebol raça, pelo bairro de
Boedo. A paixão por San Lorenzo de Almagro.