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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ele chegou com todo o tempo que prometeu lhe dar. Deu seu relógio, mas a sufocou de lembranças e de beijos de espera. O tempo vencido envenenou seu querer e a fez perder o apetite de viver o que já era apenas passado.
Então veio outro. Trazendo em seus braços espectativas, presenteando a com um futuro que não lhe servia. Derramando beijos ansiosos e escrevendo histórias mornas,  nele ela apenas encontrou vontade.
O terceiro entrou em sua casa, sem pedir licença, com olhos de intensidade. Descontrolando sua solidão, invadindo suas confusões. Trouxe beijos novos, risadas e sorrisos. Mas vasculhou gavetas passadas, rotulou sentimentos. Enganou vontades. Sem carinho. A encontrou tão dona de sua solidão e a deixou apenas sozinha.
Outros vieram, tentando encontrar o mapa secreto de sentimentos tão escondidos dentro dela. Redescobrindo paixões, inovando sensações...mas neles ela só enxergou o vazio.
Então veio ele, com a calma de quem entende que o tempo da espera acabou. Respirou cada sensação de encontro e abriu a porta de caminhos que fariam da doce espera o desesperado reencontro. A encontrou de malas prontas e jogou fora com carinho uma bagagem que nunca lhe serviria. A deixou tão distraida que antes que ela dissesse não, invadiu seu coração.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Gaiola Aberta

Palavras repetidas que nunca mais foram ditas. Certezas que escaparam com o tempo. Fotos em que não consigo me encontrar.
Ando me traindo. Sendo aquilo que me nego a ser. Estou te traindo, me perdendo daquilo que sempre fomos. Procurando um título para aquilo que sempre caminhou sem nome, me descubro não tendo mais asas e te expulsando da minha história.
A realidade é que na bagunça dos meus caminhos eu não acredito mais na nossa liberdade nos prendendo. Deixo a porta aberta para se quiser voltar, o problema é que o caminho mudou e eu já não encontro nenhum lugar para pousar.


sábado, 9 de agosto de 2014

Quando a foto passa a ser apenas uma história que já não é mais relida. O que fazer com todas as certezas que agora estão guardadas na gaveta?
Muitos anos se passaram desde a primeira noite de sorriso sem motivo.
Se o passado bate incessantemente em sua porta é hora de trocar a fechadura e fechar a casa das memórias.
Ela pegou o que guardou do abraço apertado, do beijo calado e se perguntou se todos os tempos em que o tempo parou para eles continuarem por um novo caminho, não era na verdade o mesmo antigo modo deles caminharem sempre distantes um do outro.
Muitos anos passaram, muitos relógios quebraram e ela ainda lembraria da rua de promessas, das palavras desmedidas, do final feliz e da música trazendo ausência.
Atrás da porta deixou em segredo a chave de todas as suas chances desperdiçadas.
Se você for embora...
Se você voltar...
Se o meu tempo resolver parar de brincar...
Ela vai mentir. Vai dizer que desta vez já não precisa mais.
Irá perguntar se isso realmente importa. E a cada novo ato vai fechar as cortinas e esperar que aplaudam o final que ela impõe para a platéia cansada do mesmo ato repetido incansavelmente.
A cada trovão e tempestade feita em tempo seco, ela irá se culpar e se desculpar.
Quando o palco estiver vazio, vai dançar a solidão e brindar com suas lembranças o que poderiam ter sido e não foram.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Na casa da minha avó o quintal era grande. Os almoços de domingo terminavam com discussões fervorosas. Não tinha hora para dormir e muito menos para acordar. As brincadeiras duravam dias e o fim de semana tinha gosto de miojo e cheiro de bala de açúcar.
Os personagens dessa casa que hoje já não existe, eram muitos. Na mesa redonda da sala de jantar sempre tinha espaço para mais um e a escada vasada era o camarote para as crianças participarem das conversas dos adultos. Os protagonistas desse conto de infância eram quatro. Nós quatro. Primos e irmãos que dividiam segredos, histórias, fantasias, brincadeiras.
Hoje, sentados na mesma mesa redonda recordamos o que fomos. Não se fala do que somos. Cada um de nós guardou um pedaço de uma colcha de retalhos que foi a nossa infância. Minha prima criadora, meu primo só sorriso, meu irmão cuidados, eu sonhos. Éramos a mistura de uma família unida e dividida. Contraditória. Somos o resultado de finais de semana e férias juntos. São a minha história. A causa da difícil missão que foi crescer.
Sou a caçula. A última a saber que papai noel não existia. A primeira a seguir os três com total confiança. A herdeira de brinquedos e brincadeiras. A última a fechar a porta da nossa infância. Quando minha prima cresceu e disse que já não tinha idade para brincar, chorei. Choro com raiva da desilusão. E a promessa de que nunca cresceríamos? Ilusão. Das sopas feitas de plantas do jardim, dos filmes, jogos, esconderijos, gritos, guerras, aventuras, restaram quatro adultos totalmente diferentes. Seguimos caminhos opostos. Vivemos longe um do outro. Não existe mais almoço de domingo e os encontros duram três horas.
Quando eles se despediram da infância, um de cada vez, fui guardando comigo a promessa que eles não cumpriram. Não cresceria. Brinquei sozinha, tentando lembrar das histórias que me foram contadas e na minha ingenuidade de criança não percebi que o tempo passou e que eu também não pude cumprir a promessa.
Meu primo, dono de olhos que tem sorriso próprio, casou. No altar, lá estavam os quatro novamente. Dividindo nossas histórias mais uma vez. Minha família. Só a gente sabe a dor e a delícia de carregar o mesmo sobrenome. Somos o elo com o passado, os responsáveis por novos almoços de domingo e a certeza que a história de nossa família ainda vai longe. Meu amor dividido em três pessoas que formam um mosaíco cheio de momentos inesquecíveis.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Não sei o que é linha de impedimento, mas sei o que são as linhas de expressão que se formam no rosto de um torcedor ao soltar o grito de gol.
Sou argentina. Em meu sangue correm as águas do Rio de La Plata em ritmo de tango. As sementes de minhas raízes foram plantadas em Boedo, bairro de tango, tradição, de senhores e senhoras sentados na porta de suas casas no final da tarde para uma conversa descompromissada tomando “unos mates”.  Bairro com cheiro de lembranças, de casas simples e da paixão por San Lorenzo de Almagro. Meu time, time da minha família.
Foi nesse bairro que carrega tão claramente a leveza e o peso de ser portenho que vivi um dos melhores anos de minha vida. Foi em uma casinha Amarela na Rua Estados Unidos que descobri, enfim o peso da palavra família.  Éramos doze meninas vindas de diferentes lugares, com sonhos ainda escritos no papel e vontade de devorar o mundo. Nesse antigo casarão transformado em republica que encontrei onze irmãs. Elas merecem um capitulo a parte em minha vida, pois o que vivi ao lado delas ainda não sei colocar em palavras, mesmo tendo se passado tanto tempo.

Meu avô nasceu em Boedo e o escudo do San Lorenzo de Almagro é o brasão da minha família. Não apenas da minha, mas de tantas outras que vejo nos estádios cantando juntas e se abraçando com um calor inexplicável a cada gol a cada vitória ou a cada derrota. De futebol eu realmente não entendo, mas de tradição sim. E está no sangue de “los cuervos” a herança deixada de pai para filho. Se olharem com atenção para essa torcida azul e vermelha  encontrará no meio de tantos outros fanáticos o presidente “Del ciclon”. Ele está ali no meio da massa, torcendo e gritando. Ele sai junto com a torcida e abraça cada um dos tantos cuervos com a ternura de  irmãos distantes que tem algo em comum. A paixão pela tradição, pela família, pelo futebol raça, pelo bairro de Boedo. A paixão por San Lorenzo de Almagro.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Fechar as portas das minhas antigas vontades e reconhecer que não existe volta...É simples. Não adianta mais ter saudade. Mas há uma porta, que eu esqueço de trancar e que se abre toda vez que nas minhas incertezas eu resolvo parar...
Quem é que vai me amar da forma que eu sei receber amor?
Quem vai escutar meus pesadelos? Quem vai construir a plenitude de uma história que não tinha nada para se tornar tão única? Quem vai me olhar do jeito certo e entender que não sei falar sobre o que sinto? Quem vai cumprir e lembrar de tudo que foi dito no início da paixão? Quem vai ler nas minhas entrelinhas meus medos?
Olhe para nós...O que restou? Saudade? Magoa? Ou simplesmente nada?
Estranho é pensar que no fim ou no começo de cada uma das minhas vontades...lá está aquele que nunca deixou de ser o dono do mistério dos meus tempos desmedidos.
Do jeito calado e manso vem rir das minhas histórias infantis e dizer em silêncio que nunca ninguém conseguirá entender meu jeito de gostar. Com sorriso quieto me olha e me diz que nunca darei certo com ninguém porque é só com ele que a nossa forma errada funciona.
Chega quando eu menos espero e vai embora, como vento. Sem me deixar espectativas de um recomeço, mas com a certeza de que meus términos são o jeito do destino dizer que ainda não é a hora. E nessa meia hora de encontros e desencontros ele muda meu sorriso e me faz rever meus planos de passar a vida procurando o que eu já encontrei faz muito tempo.
Os outros? Me dizem adeus e não olham para trás e no recomeço de meus caminhos ele vem, pega na minha mão e diz que o tempo esperou o tempo certo para a gente se amar. Me ajuda a fechar as lacunas das minhas histórias erradas e vai embora me deixando perguntas presas na boca. Quando meu caminho vai cruzar novamente com o seu? Ou quando finalmente você não precisará mais aparecer para me mostrar que eu erro nas minhas histórias?
Olhe só para mim...O que restou de todas as vezes que eu disse que eu já não sentia nada.
E enquanto eu visito os lugares que ninguém me levou ele carrega a bagagem da minha ausência e o peso  de uma história interrompida pela necessidade de entender que meu caminho é ligado ao dele.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Olhe bem! Há um rosto conhecido em uma foto que já não ocupa o porta retrato principal da casa.
Preste atenção...existe alguém que ainda aparece em seus sonhos, mas cuidado ao acordar com a triste notícia de que era apenas isso, um sonho. O estranho é sonho ter sabor e cheiro. 
Sobre o tempo...é acho que preciso dele. 
Olha a foto..."Ah me espera, a gente já vai se encontrar de novo. Que saudade." 
Dança tempo. Por favor, entenda se eu te pedir para a gente dançar em ritmos opostos. A nossa música tem um compasso só nosso, mas quem sabe exista outro par e um novo jeito de amar. 
A luz fica acesa para eu não ter pesadelos e a porta fica aberta para que se possa voltar.
Eu esperei tanto tempo por respostas e descobri que ainda há muito para esperar...então eu resolvi desprezar o tempo.  Existe um segundo em que histórias se cruzam e uma eternidade em que se tenta voltar aonde tudo começou.
Será que eu vou sentir saudade?
A minha resposta é sempre sim.



domingo, 26 de janeiro de 2014

Sempre quando começo alguma discussão sobre meus ideias escuto. "Isso não vai resolver". "É assim que é, não há nada que possa ser feito". Meu primeiro pensamento quando escuto frases que certamente me acomodariam é de que a morte não me encontre vazia, sem ter feito o suficiente. 
Me perguntam o que eu mudaria nesse mundo se pudesse. Pois é, aonde começar? Nessa bagunça que é a nossa vida aonde encontrar a ponta do nó que nos aliena?
Vivo em uma bolha, tive educação, viagens de férias, brinquedos de Natal. Realmente, não entendo da pobreza e do preconceito que muitos presenciam todos os dias. Mas não sou indiferente à inocência de toda essa gente que é esmagada por uma rotina de alienação e de frustações. Mesmo porque, me incluo a massa e já levei muita porrada da hipocrisia. 
Escuto meus amigos que vivem uma realidade totalmente diferente da minha. Esses me dizem "é lindo tudo o que você diz, mas nós queremos a solução, não os ideais." Para esses, peço desculpas, porque é fato, não tenho a solução para esse mundo cruel. Já os meus amigos que vivem na mesma bolha que eu, escuto que meus ideias não importam. Sim, talvez não importe a idéia de uma simples pessoa, que não passou pelo sofrimento, pela pobreza e que depois das dez da noite não sai sozinha na rua porque esta é perigosa, cheia de marginais.
Eu só peço para não ser indiferente a nossa história. E que não seja fácil esquecer aquilo que muitas vezes não nos faz dormir. Porque por mais que eu viva em um mundo de faz de contas, está cada vez mais difícil não esfregarem na minha cara que está tudo errado. E minha alma, que quer ser livre, não consegue descansar sabendo que existe um grito preso em minha garganta. Fui ensinada a obedecer e não a contestar. Mas como o ensino é todo errado...contesto. Por que?
Se tivesse  resposta não estaria escrevendo esse texto mostrando minhas frustações de estar perdida em ideais que ninguém acredita. Enquanto não sei o que fazer tento manter vivo em meu pensamento essa pergunta. Como fazer o futuro dos outros não ser indiferente?
Que o que eu vejo na televisão não me deixe acomodada, mas que me de coragem de trilhar um caminho diferente e de descobrir em outras realidades, uma que seja igual para todos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"Olhe dentro dos meus olhos. A criança que existia em mim morreu."
Não, nada morre assim tão fácil de dentro da gente. Seja um sonho, um amor, uma idéia, uma vida...
Me olho no espelho. "Acorda sonho meu!" "Acorda inocencia minha, que acreditava em príncipes encandados."
Quando minha amiga, a minha companheira de ideologias me mandou uma mensagem dizendo que já não existia dentro dela nada dos ideais que um dia a gente sonhou lutar, entendi de onde vem a minha angustia. O medo de que morra dentro de mim o meu mundo de faz de contas, que me faz acreditar que ainda posso mudar algo nesse mundo. Tenho medo de esquecer tudo que vivenciei e tudo que meu coração guardou de todas as histórias que escutei e de toda a gente que  de dentro dos olhos vi uma criança habitar.
Aquele homem mostrando com orgulho e humildade a sua pequena casa em uma ilha isolada no meio de um império devastado, aquele senhor puxando com resignação a cadeira para que eu me sentasse em um mundo onde ele só via de fora. Aquele menino que me mostrou sem perceber que o que eu mais queria era o conforto de seus braços, ou aquela senhora que passou a mão em meu rosto e em seus olhos vi refletida uma vida que se acabava.
Não, não pode ser que a memória falhe e eu esqueça do que meu corpo guardou com tanto cuidado. É cruel demais que os "nãos" que a vida me colocou apaguem a minha sede de viver e experimentar mais e mais das sensações que esses encontros me causaram.


Tudo isso é um mistério para mim. Meus pensamentos vão longe e meu corpo não acompanha a distância que quero percorrer. Ando doente, com sintômas que não sei diagnosticar.
Preciso de mais espaço. O que a gente faz da liberdade que a gente tanto busca? Viver dessa ambiguidade; entre ser o que quero realmente ser e o quero que achem que sou, ainda vai me levar a loucura.
Tenho necessidade de voar, mas sinto que estou caindo nas armadilhas que eu mesma criei.
Deixe-me sintir o batuque do coração fora do ritmo, o frio na barriga e o nó na garganta que me mostram que estou viva.
Ainda não entendo o poder de algumas palavras e continuo em busca das palavras ainda não ditas.
Sou um número, de fora sou exata, da forma como querem me ver e me definir. Mas assim, sou exatamente nada. Será que eu quero mais do que eu realmente preciso? Quando você está sozinho olhando o mar em que você pensa?
Descrevo os sintomas que sinto. Tenho sede de liberdade, fome de saudade e angustia, muita angustia. Durmo pouco, falo muito e discordo de tudo e de todos porque não sei com o que concordar.
Acordo e vejo o mundo que tenho para descobrir, mas ao mesmo tempo vejo o mundo que quero encobrir e fingir que não vejo. Será que estou tão cega quanto os outros que passam ao meu lado? Será que sou tão transparente como aquelas pessoas invisíveis que vivem ao meu redor?
Eu só quero a liberdade de conduzir minhas próprias escolhas. Quero ser livre a ponto de não precisar prender mais ninguém. Conseguir ir embora e mesmo assim permanecer, talvez fosse a forma de me libertar. Quem sabe? Enquanto não sei diagnosticar o que meu coração sente, vou procurando no toque de corpos que ainda vivem as sensações que perdi.

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