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quarta-feira, 28 de março de 2012

Tenho um mundo particular em que poucos são convidados a entrar.
Se eu não te convido a entrar, não me leve a mal...É que não é fácil para mim compartilhar das minhas fantasias.
Não me sufoque demais com perguntas que não tem respostas, como por exemplo o quanto eu gosto, o quanto eu quero ou como eu quero. Se te convido a entrar no meu mundo, a compartilhar dos meus segredos, das minhas loucuras, não se sinta especial. As vezes eu também me engano e deixo fazer parte da minha fantasia o que não vale a pena. Acontece.
Acontece tanta coisa o tempo todo aqui dentro que é difícil para quem está de fora entender. E eu não peço que entendam, porque existem certas coisas que não se pede...
Me acostumei com a idéia de que quem não consegue ultrapassar a linha invisível entre meus dois mundos, não consegue ficar comigo.
Preciso da solidão, do meu espaço e do meu mundo individual e se muitas vezes pareço não me importar com o que o outro faz ou deixa de fazer, não me levem a mal...É que eu gostaria que fizessem o mesmo comigo.
Eu não deixo de gostar quando não estou ao lado, quando não ligo várias vezes ao dia, quando não me faço presente o tempo todo. Ao contrário é por gostar tanto que eu deixo...Não é que eu não me importe, mas eu não quero invadir o mundo particular de ninguém.
Então vem aqueles que exigem o tempo todo que se demonstre o quanto se quer a todo instante. E novamente eu me perco. Porque eu não me encaixo. Eu não sei dizer o que eu sinto, porque o que sinto eu demonstro. E ai, nós nos perdemos. Entre palavras não ditas e sentimentos não vividos, muita gente se confunde. Eu não me confundo...não me esqueço, mas também não abro mão da minha solidão. E não suporto quem tenta me tirar dela. Me deixe só, eu gosto, não me faz mal.
Aos poucos a gente vai percebendo que só conseguimos ficar calados ao lado de pessoas que realmente gostamos e neste silêncio surgem as respostas de tantas perguntas soltas no ar.
É no abraço que se juntam dois mundos totalmente diferentes. Eu gosto do que é diferente, do que não é fácil, do que nem todo mundo tem.
É chato ter que explicar tudo o tempo todo. É chato ter que demonstrar o tempo todo que a gente não é isso que querem que a gente seja. Eu abri mão do meu ciume doentiu, do meu orgulho que envergonha e agora deixo...deixo o que tiver que ser. Não porque esteja acomodada, mas pelo simples fato de saber que não vale a pena brigar. Se o motivo de tudo isso é procurar uma definição...eu defino que não serei. Defino minha liberdade como escolha.
Há o medo de se romper barreiras de se quebrar histórias, mas eu aviso não existem formas de se descontruir o que o tempo já construiu. E então, pela primeira vez eu tenho ele, o tempo, não como inimigo, mas como cumplice de histórias que não tem como serem esquecidas.
E quanto as pessoas que esfregam na minha cara o tempo todo que é preciso ser algo que não sou, que é preciso falar, demonstrar, brigar, por na parede eu respondo com meu silêncio, meu mais novo aliado. Definições e respostas servem para provas e  na  minha vida eu não procuro isso, não procuro sentido..procuro sentir. Se não é possível entender isso, não serve para entrar no meu mundo. Não corte minhas asas e nem queira que eu corte a de outras pessoas. Só quem pode voar entende aonde quero chegar.
Fui criada em um ambiente pedagogico. Em todas as poucas escolas que estudei tive minha avó ao meu lado como exemplo de educadora e de ser humano. Uma grande coordenadora e uma sensível mulher sempre presente e sempre atenta, principalmente com seu querido corpo docente.
Cresci assim, escutando de todo mundo que eu deveria ser o exemplo, mas nunca consegui ser. Aliás, nunca consegui ser o que exigiam que eu fosse.
Lembro-me como a minha avó defendia os alunos que não eram exemplo a ser seguido, talvez por isso hoje eu não acredite nessa frase clichê e errada. Durante algumas semanas meus pais acolheram em minha casa um menino mau exemplo, que com a morte da mãe e da avó, suas defensoras, passou a ser um grande problema na escola em que estudavamos.
Adolescente rebelde, não foi fácil para meus pais criarem um menino desiludido com a vida. Lembro-me do dia em que vi a porta da entrada da minha casa aberta, minha mãe no portão com lágrimas nos olhos e a silhueta do menino de longe, bem distante escolhendo um caminho que com toda a certeza não era o caminho dele. Não sei o que aconteceu com este meu "irmão" de poucas semanas. Só sei que por ele ser um problema, ninguém quis ficar com ele. Não culpo, mas não entendo.
Não entendo como definem quem é e quem não é um bom exemplo em nossas vidas. Sinto muito, mas precisamos de todos os tipos de exemplos para saber o que é que realmente queremos ser e com quem queremos estar.
Escolher o caminho mais fácil, pode ser uma solução. Pode resolver nossa vida, mas não resolve a vida de quem não se encaixa.
Não me tomem como exemplo a ser seguido. Não acreditem que faço as coisas sempre certas, porque não faço. Sou tão errada quanto qualquer outro e não aceito o lugar daquela que aconselha. Se pudesse aconselhar diria para não pedirem meus conselhos. Sou tão confusa e contraditória que o que acho hoje certo, amanhã já se tornou erro.
Aos poucos fui vendo passar pela minha vida diversos tipos de pessoas e não foi preciso ninguém exclui-las de minha vida. Eu é que tive que escolher quem eu queria ter por perto. Tive e ainda tenho gente próxima que me fez muito mal, e gente que me fez muito bem. Eu poderia apagar elas, fingir que não existiram, mas tirar elas de minha vida é passar uma borracha na minha história. E isso eu não quero.
Então, quando me dizem que este ou aquele não são pessoas boas, eu me lembro que um dia eu também não fui boa e que eu tive alguém bom o suficiente para me olhar e apostar que as coisas poderiam mudar...Não me tirem o direito de acreditar e de apostar que é possível mudar, que é possível contruir uma história diferente daquela que as pessoas que já escreveram para nós.
Sei que meus braços não são grandes o suficiente para abraçar o mundo, mas neste momento eu gostaria que eles fossem o suficientimente grandes para abraçar aqueles que não são padrão, que não se encaixam e que por este motivo são tão especiais.
Para aqueles que o caminho não é fácil, para aos que procuram e muitas vezes não acham, para aqueles que são mau exemplo, para os que nem exemplo são. Não acreditem em tudo que falam. Não sejam o que esperam que vocês sejam.
Para aquele que me escreveu uma carta me chamando de amiga mãe, que me disse que eu entendia...Eu respondo. Eu não te entendo, mas aceito, aceito que não entender faz parte da vida e que para aceitar o que não se entende é preciso coragem.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Minhas definições de palavras soltas em bocas presas.
Abraço: aquilo que quando encaixa a gente não quer mais soltar.
Amizade: quando os olhares se entendem.
Amor: quando os olhares se entendem e os corpos também
Beijo: aquilo que cala e responde.
Família: aonde você é sem precisar ser.
História: aquilo que se conta antes de dormir.
Lembrança: é o cheiro, sabor e som que vem de repente, sem bater na porta.
Indiferença: é  quando os olhos não enxergam
Pensamento: é aquele lugar em que você queria estar
Pesadelo: é o que te faz acordar
Choro: é quando dão um nó na nossa garganta.
Decepção: é quando a gente espera demais
Tempo: aquilo que tira a cor do dia.
Saudade: é não esquecer e sem querer lembrar.
Traição: é um tapa na alma
Alma: é aonde a gente guarda as nossas cores.
Felicidade: é quando o tempo deixa de tirar e coloca cor no dia.
Sentimento: é uma caixinha que a gente guarda no fundo da nossa alma e que tem medo de abrir.
Cicatriz: aquilo que conta a nossa história.
Medo: é o que invade a gente na calada da noite.
Noite: é o refúgio do sol
Ela estava lá, perto do balanço em que a menina costumava balançar. Sentia o vento beijar suavemente seu delicado corpo e lentamente abriu as pétalas para o dia que surgia. Todas as manhãs ela esperava pela chegada dele, pelo momento do encontro propício. Ela era aquela que se despedaçava pouco a pouco. Triste flor de outono. Não entendia como era possível ele viver indo embora. A cada ida, levava um pedacinho dela. Tentativa de enfeitar o seu ser com a beleza que ela guardava só para ele. Ele estava não muito de longe, mas nunca perto. Cultivava distante a sua flor de primavera. Usou a distancia como motivo para nunca se unir a ela. Chegou um dia e viu sua flor chorando, mas a  sua tristeza não era causada pelas muitas despedidas dele..outro havia a arrancado um pouco da beleza de sua flor e levado consigo...Isso o deixou angustiado. Como estar longe e ao mesmo tempo proteger sua flor dos outros ? Criou então uma cerca, afastando assim qualquer um que pudesse magoar sua delicada flor. E dessa forma, se despreocupou de observa-la sempre, já que ninguém podia toca-la.
Em uma dessas  noites em que a lua sorri lá no céu, a saudade bateu em sua porta, e com sua mão forte, apertou o coração do jovem. Este saiu pela noite fria de inverno para resgatar sua flor da ausencia que tinha a congelado. Chegando lá, perto do balanço viu a pequena cerca que a protegia de todos, menos dele, crescida. Se tornara mato, arisco matagal que o impedia de ver sua flor.
Ela estava lá ainda, presente como sempre, mas sem poder ser vista.
Ele estava lá também, como sempre esteve, distante, mas perto suficiente para que fosse possível notar sua presença.
E assim ficaram, durante o inverno que os congelou, cada um preso no seu jardim de solidão.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Não existe ninguém que não possa nos ensinar algo. Minhas manhãs são feitas de conhecer e reconhecer no outro muita coisa.

De coisas simples é possível se criar um mundo e na imaginação a gente encontra muitas formas de recriar o presente.
Do quadro em branco começam a sair esboços de uma vida. Quantas cores em um dia só.
Quantos olhos a me observarem e quantas bocas querendo dizer tanta coisa. Como me colore o dia, a chegada de alguém querido, de um abraço recebido e do olhar amigo.
Quando a gente é criança os adultos perguntam o que a gente quer ser. Eu não entendia a pergunta...eu já era, aliás eu já sou o que quero ser desde que nasci.
Fotos...O que você se tornou envergonha a criança que um dia você foi? Envergonha a criança daquela foto antiga, que provavelmente está enfeitando algum canto da sala de estar de seus pais, o que você fez do seu caminho?
Qual foi a última vez que você dançou na chuva? Quando foi que você deixou de caber dentro de um abraço bem apertado?
Você se lembra de como eram suas professoras do primário? Por um acaso ainda faz malas para passar o final de semana na casa de sua avó?
Crescer não é chato. Chato são os moldes. Então eu me transformo em massinha que pode virar qualquer coisa, o que a imaginação desejar.
As cores me lembram canções e as canções me lembram paixões. O que é que a gente faz para não descolorir? Qual a receita para não desbotar com o tempo?

segunda-feira, 19 de março de 2012

Minhas melhores lembranças, eu as liberto. Para que assim novas melhores lembranças possam fazer parte de mim. É estranho como a saudade vira falta e a falta revira tudo na tentativa de achar algo para manter vivo o que não respira mais...
Acontece que se uma história  começa aos poucos, também se termina aos poucos. Se os detalhes conquistam e fazem querer mais e mais outros detalhes vão tirando a magia dos momentos e transformando tudo em algo banal e assim pouco a pouco a gente para de sentir e se acostuma. E já não faz mais diferença. Quando quebra não conserta, quando acaba não recomeça.
Não insista. Bocas fechadas falam muito. O tempo com seu tempo dá o tempo certo para que aconteça o que tiver que acontecer.
Brilham olhos, explodem momentos, desaparecem fantasias e se cria e recria a realidade.
O que é real? Na imaginação tanta coisa parece real, no real tanta coisa parece imaginação.
Deixa fluir...Deixa como está...apenas deixe e não se queixe. A gente só deixa o que pesa e no caminho a gente quer ser leve. Leve só o que te faz levitar sem nem pensar. Me assusto, meu coração gela, minha boca fica seca e minha mente pira. Não nego...não tem nome, não tem explicação. É livre, solto.
Salta, rodopia, faz batuque descompensado. Quantas histórias para o meu corpo provar. Provo, aprovo o que desperta a atenção dos meus olhos, tato e paladar.
Sinto, muito, que o cheiro e o gosto não tenham lugar para se guardar.
Sorrio, choro...intensidade vem sem intensão e quando dou por mim estou dançando a música de uma nova história cheia de trilhas sonoras.
Trilho novos rumos e esqueço, mas me aqueço ao sem querer lembrar. Faz falta, faz bagunça, faz história. Faz nó que enlaça e não se desfaz.
Algo sútil a gente não percebe até que se de conta que faz falta na sutileza de sentimentos que a gente tem e guarda...Deixo longe, afasto, volto, percorro o caminho e encontro o que me faz sorrir sem pensar. Muda o tempo todo e eu permaneço muda e calada. Calo e entendo que as melhores coisas vem sem esforço, vem porque querem vir, não porque a gente chama.
Se há espera, há reserva e eu me reservo ao direito de não esperar por mais nada...
Boa Noite para quem não se esquece de nós, para quem pelo menos uma vez ao dia vem nos visitar em pensamentos, para aqueles que quando menos esperam o pensamento trai.
É possível tirar as tatuagens feitas de instantes do nosso corpo? Será que seriamos capazes de esquecer e mesmo esquecendo, continuar lembrando?
Que as minhas marcas continuem em meu corpo, elas me lembram o tempo todo que eu estou viva.´
Em quadros antes coloridos agora eu vejo tela branca...

sexta-feira, 16 de março de 2012

A menina abaixou a cabeça em solidariedade a tristeza dele.
Sentou ao seu lado e transformou do silêncio sua melhor forma de abraça-lo.
E ali ficaram, sem falar, sem se tocar...Apenas ali, respirando a presença um do outro. Como era bom estar ali sentindo a plenitude de se se sentir completo por um instante.
Depois, afastando-se não reconheciam mais o silêncio que confortava e buscaram palavras, formas de mostrar que ali estavam ainda. Um ao lado do outro...E de tanto se falar se perderam em conversas que não diziam nada. Foram então, se distanciando e na distância não achavam mais sentido em estarem presentes.
Sem explicações, sem despedidas se perderam, não se acharam. Ficaram no meio termo, entre o certo e o errado...E nenhum dos dois, nenhuma vez, olhou para trás...
A menina sorriu em forma de lembrança viva e o acolheu com o olhar.
O olhar sempre presente, sempre atento...Sempre vendo o que ele não vira...antes transformado em vidro, se quebrou e derramou, sobre o olhar atento de quem soube esperar, a saudade angustiante de quem não soube esquecer.
Lado a lado, sem dizer nada passaram dias e noites conversando sobre o que sentiam. Conversavam pelo toque da pele e pelo sorriso camuflado de felicidade dilacerante que arrancava pouco a pouco os espinhos encontrados durante o caminho. Deixaram de ser quem eram e se transformaram no que passaram a ser. Eram, estavam, ficaram...com a palavra presa na garganta se soltaram e quanto mais se soltavam mais com fervor queriam sem demora estar perto. Com cuidado, se descuidaram e finalmente se acharam, eles que ali sempre estiveram, na lembrança, na saudade, no sorriso bobo formado por um coração de memórias.
Eles que, no entanto se perderam entre as palavras jogadas em forma de canção desafinada, se encontraram novamente na canção muda de pessoas que falam pelo olhar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Não quero falar sobre o que sinto...Quero respirar, quero viver. E me vejo falando da boca para fora coisas que ninguém entenderia. Coisas que não quero que entendam.
Durmo em horários estranhos e acordo de madrugada para procurar no silêncio as minhas vontades adormecidas. É tão difícil colocar um fim...Mudar o rumo.
Gosto de corpos que conversam e me vejo de repente muda, calada e meu corpo traindo meu querer.
Derrubar paredes é isso que quero, é isso que faço. De admiração eu estou cheia. 
Era uma vez alguém que parava os ponteiros dos relógios. Que não chegava na hora marcada e que desarrumava e confundia...
Era uma vez alguém que me contou um segredo; que não era preciso ter medo. Que ele continuaria ali, mesmo eu não sabendo.
Era uma vez alguém que revelou os sintomas que explodiam dentro de mim...Ele veio pedir para eu reparar bem. Me segurou para eu não sair correndo. Me soltou para eu não fugir. Me assustou e me revelou. Fez pausa, fez canção...
O que se faz com uma história? Se conta incansavelmente para que ela não se perca, ou se guarda para que ela não se vá...
Raptaram meu destino...Posso até adivinhar o caminho que escolheram. Fecho os olhos, o que eu quero é beber da doçura de um beijo sem fim. Enlaço em um abraço que se transforma no melhor lugar do mundo. No seu peito fazendo batuque na tentativa de me acolher. Acolho, escolho, me faço pequena. É silêncio, é respiração contida.
Feche os olhos então, meu escuro é você. Faz fronteira e invadi sem anunciar e passa sem que note a falta que faz quando tudo fica mudo. O que se encontra é o que te satisfaz.
Fingiram ser o que não eram, sorriram em forma de falsa paz...Transformaram a história em notícia e a saudade trouxe despedida.
Era uma vez uma história sem começo...Com seu ritmo lento, desacertado....

quarta-feira, 7 de março de 2012

Chego em casa...Cadê? No lugar em que ele costumava ficar está apenas o vazio. Minha reação é até um pouco fora da realidade para quem ve de fora. Não, não estou falando de alguém querido que se foi. Estou falando de uma coisa querida que se foi, apenas um carro.
Então, como explicar a sensação que senti ao escutar a notícia seca, sem sentimento algum de que ele havia ido embora.
Meus olhos se encheram de lágrimas e sem que eu conseguisse controlar as gotas salgadas invadiram meu rosto..."Você é doente". Este foi o consolo de meu pai. Afinal, é apenas um carro, um objeto e eu não nego que seja isso. É um objeto, um objeto simbólico de tanta coisa...Novamente meu pai não aceita a minha explicação para o choro contido e com sua sensibilidade aflorada responde; "Você é descontrolada". E me entrega uma sacolinha impessoal com todas as coisas pessoais que guardava dentro daquele meu companheiro...Meu pai já sem paciência para o drama vai saindo de cena...Consigo ainda falar "Mas eu nem me despedi dele". Nessa hora meu pai já largou mão de escutar meus lamentos e volta para o seu futebol de quarta-feira.
Perco até a vontade de saber qualquer placar, pego a minha sacolinha com tudo que juntei durante anos e me fecho no quarto.
O que é que está acontecendo comigo? Não tenho nem coragem de ver o que restou dele. Dou uma espiadinha na sacolinha e vejo meu caderno de anotações, aquele companheiro de trânsito lento, que em momentos de inspiração me ajudou tanto. Está ali...jogado, largado.
Tento me acalmar, afinal, é só um carro. Obviamente isso não me acalma. Que importa que seja só um carro? Me importa o que eu vivi com ele, dentro dele ou fora..não sei... Só sei que minhas lembranças eu não coloco assim a venda e sinceramente elas valem muito mais...
A nostalgia vai tomando conta de mim. Me vem na cabeça a primeira raspadinha na garagem, a primeira batida violenta na avenida. É até que ele me aguentou bastante. Os lugares que fui, as caronas que dei, as fugidas, as músicas que pediam para que eu abrisse a janela e deixasse o vento entrar. Os caminhos que ele já sabia de cor...Bobagens, apenas bobagens..Mas quando dou por mim, lá estou eu, novamente olhando o espaço vazio na garagem. E as imagens aparecem me dando susto, vem sem pedir licença e me dão soquinhos na boca do estômago. Aparecem como em filmes as cenas dos primeiros beijos, dos últimos beijos, dos abraços de chegadas e de partidas...O nó na garganta vai se apertando, me vem uma saudade, uma vontade de que as coisas não mudem e de que o tempo não passe.
Dá para esperar um pouquinho? Eu preciso de tempo, não sou boa para despedidas...
Pego um CD com o título obvio de "CD carro" e coloco para tocar. Aí é tortura com meu pobre coraçãozinho que se fragiliza facilmente. Escuto, escuto minha voz de ontem, meus amores do passado, alguns ainda presentes, minhas amizades conquistadas, meus medos, minhas vontades. Aquela sacolinha entregue com tanto desdem vira meu tesouro...
Que estranha essa minha mania de colocar sentimentos em tudo. Me sinto culpada, será que esse meu parceiro não se sentiu usado? Mas que bobagem, é apenas um carro, apenas um carro..Mas, eu não tive a chance de me explicar...Que bobagem...é apenas um carro. É, eu sei disso, mas também sei que não é fácil assim de se desfazer de lembranças e isso, isso não é bobagem.

terça-feira, 6 de março de 2012

Minha capacidade de esquecer é grande, de deixar para trás, maior ainda. Mas, ao mesmo tempo tenho a estranha mania de lembrar demais.
Não nasci para fazer contrato social e me vejo sem perceber atrelada a contratos invisíveis que se desfazem facilmente como castelos de areia.
Posso fazer o meu pedido? Posso ter meu próprio tempo? Não atropelem minha vontade. Procuro no outro o reflexo de muita coisa que guardo aqui dentro...Conte comigo!
Sumo e assumo que não consigo ficar...que não sei parar, que este não é meu lugar. Aonde é que você quer chegar? Eu só quero me libertar de modo que não seja preciso buscar formas de me prender.
Guarde meus segredos, são nossos. De que vale a pena voltar, quando se volta para o nada?
O bom de seguir em frente é que a gente acaba conhecendo muita gente, muita história e sem querer, sem perceber a gente volta, não para o que já passou, mas volta porque sabe que ainda não acabou.
Eu só quero saber sobre aquilo que eu ainda não consegui entender. Eu só preciso entender "por que?"
Eu amanheço com o toque da pele e adormeço com o mesmo toque. Então, se toque não há mal nenhum em ser assim. Não há mal nenhum em gostar assim.
Tenho sede de gente que me completa a alma. Sou cegamente ingenua, mas este não é meu defeito...o meu defeito é achar que todos são assim...Me entrego e me completo porque sou o que sou. Sou a palavra comedida e a vontade desmedida. Sou a busca e a procura e sou aquilo que ainda não descobriu o que é, mas já sabe o que não quer ser e eu não quero ser feita de vontades banais, nem quero brigar com o tempo para que ele me de tempo...Eu ainda gosto de gostar das pessoas. Eu ainda faço questão do outro e eu ainda quero me perder no outro. E se dizem que minha vontade é alheia a realidade, finalmente escolho viver da ilusão. Não me peçam para ser diferente, não queiram que eu seja igual. Algumas coisas a gente vai deixando, deixando até se esquecer que um dia deixou. É mais fácil se despedir assim...
Ela de repente se viu observando a si própria. Observou a si própria decifrando os muitos tipos de sorriso que vinham dele. Se viu contornando lábios e guardando os sinais que ele sem querer jogava para ela.
E então se distraiu...Se ela disesse que esperaria o tempo que fosse já começaria esta história mentindo, pois não há espera que justifique a vontade de mudar o rumo dessa história.
Pensou que talvez em breve esqueceriam tudo aquilo, sem saber que contunuariam lembrando, mesmo sem querer.
Foi procurando detalhes que justificassem esse encantamento. Procurou no olhar, no toque, na respiração, em seus sentidos...e encontrou. E de subto viu-se sendo observada, não por si própria, mas pelo próprio...E nos olhos dele viu refletida sua imagem e começou uma confusão de quem observa quem e que. E desta confusão de olhares, confundiram um ao outro e se confundiram. Confundiram lábios, pernas, pescoços, mãos...
Até que se deram conta que tudo era mais simples, que tudo era mais fácil. Ela se afastou e de longe viu que estas coisas simples e facéis iam morrendo pouco a pouco. E compreendeu que era hora...alguém tem que saber quando é hora de parar.
Na calada da noite apagou a luz e a história de coisas simples, tão simples que complicam o entendimento de quem quer tentar entender o que não tem razão.
Na escuridão contemplou o que guardou, lembrou-se de palavras jogavas, de segredos contados, dos muitos tipos de abraços, das muitas formas de beijos. Guardou tanta coisa que se viu cheia, cheia de vontade! E dessa vontade ficou a saudade...e na saudade ela o encontrou novamente. E novamente entendeu como era simples tudo aquilo.
Simplesmente foi como tinha que ser, foi como era para acontecer, sem precisar de nome, sem precisar que se expliquem, sem precisar que se precise. E o fim veio busca-los...
Ela então escreveu seu desejos na história e cravou no tempo as marcas da sua espera.
Se fosse possível dizer a tudo que quero "sim", sem ser leviana com o coração dos outros...Tudo que quero não faço e se faço, faço pela metade. Deixo minha outra metade presa, com medo de se soltar e assim vou vivendo a metade de tudo que sinto. Não quero machucar ninguém e acabo me machucando. Quanta contradição! A dor do outro eu não tenho como fazer parar e a minha, bem a minha só eu sinto...Tanto medo de ser a vilã na história dos outros que acabo sendo a vilã de minha própria história.
Com tanta opção a gente acaba ficando com medo de escolher. O meu medo é de não ser escolhida nem acolhida...O meu medo é de acomodar...
Sei que é difícil sair do lugar que estamos acostumados a ficar, mas eu escolho sair. Eu escolho arrancar rótulos e me perder em novas histórias.
Eu quero, mas já quis tanto tanta coisa que já abri mão, que já nem sei mais o que é decidir ficar com o que se quer. Aliás, nem sei mais se realmente quero.
Gosto do fogo porque é preciso alimenta-lo, assim como gosto das paixões porque é preciso acende-las.
E de repente me vejo nessa calmaria que a mim é tão estranha. Me dá medo, mas me dá mais medo ser isso que sou ou que não sou e finjo ser.

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