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domingo, 22 de julho de 2012

Ela recebeu a notícia de sua partida como um soco na boca do estômago. Sentiu seus olhos mareados e sorriu com delicadeza como haviam lhe ensinado que tinha que ser feito quando se tem vontade de chorar.
Como quem sente que só tem aquele último instante o abraçou para sentir pela última vez que poderia mudar o rumo daquela história. Não era fácil a despedida e jamais aprendera como se faz para amenizar a saudade que já se instalava em seu peito.
Olhou de minuto em minuto o relógio que parecia brincar com sua angustia e que acelerava de minuto em minuto. Era uma espécie de tortura contida que só fazia antencipar a dor que já sentia e que não deixava transparecer naquele sorriso de faz de conta.
Quando finalmente chegou o momento do adeus, acompanhou ele até seu destino final e pela última vez olhou para aqueles olhos repletos de segredos e de carinhos. Quando seus olhos se encontraram sentiu o frio da separação dominar seu corpo e engoliu com dificuldade as palavras que estavam cheia de lembranças. Deu um beijo silencioso mostrando que era forte e que não se abatia com sua partida.
Foi, então, na hora de desvencilhar suas mãos das dele que entendeu o tamanho de sua tristeza. No momento em que deixaram de se tocar é que percebeu que já não faria mais parte de sua história. Virou bruscamente de costas para deixar para trás tudo aquilo que ele representava. A princípio andou devagar com a ilusão de que assim ele a alcançaria caso mudasse de idéia, mas a medida que caminhava ele se destanciava e ela, querendo ser forte pelos dois, não olhou para trás. Ele a observava como sempre fizera, silencioso e atento, sabendo exatamente o que cada gesto seu representava. Não era preciso falar e ele sabia disso.
Quando ela finalmente percebeu que ele não a chamaria para, quem sabe assim, prolongar a despedida inevitável, começou a correr, corria pela rua vazia e a medida em que corria ia se sentindo livre de tudo que lhe prendia, como que em cada respirada sofrida esvaziasse um pouco da sua caixa de recordações, mas acredito que acima de tudo corria para escapar da saudade que já começava a sentir.
Fez de tudo para não pensar naqueles olhos que entendiam sua dor contida e silênciosa e naquela pessoa que já não poderia querer tão bem. Quanto menos pensava, mais sentia. Se olhou no espelho e viu refletida a imagem de uma menina desamparada e por pena de si própria chorou com lágrimas grossas uma dor que não sabia que poderia sentir. Chorou por ele, por ela, pelo destino e por toda a saudade que já sentira e guardara.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Meu aluno me disse outro dia; "professora, essa sua idéia é muito clichê". Me peguei respondendo sem pretenção nenhuma. "Eu gosto de clichê". Tem tanta gente querendo ser original o tempo todo que me cansa, eu me canso de gente. Tenho fases que preciso ser só. Gosto daquele silêncio que ninguem invade. É difícil ser só, as pessoas não entendem, mas também não quero ser compreendida. Cansa explicar tudo. O fato é que conto os minutos para estar sozinha. Quando me vejo assim, repleta de vazio, chego até a me perder em tantas vontades. Por onde começar? Fico um bom tempo sem fazer nada só para sentir mais um pouco a sensação de solidão. Falo alto comigo mesma só para ter certeza de que não tem ninguem para me responder. Quando me sinto sufocada preciso fugir. Eu que estou acostumada a gritos, risadas e confusão fico pensando, como a palavra me invade. Como eu queria, as vezes, que o mundo fosse mudo.
Mas, voltando ao clichê, o que eu posso fazer se ainda não me cansei do que já é comum. Meu amigo me disse "em que século você vive?". A verdade é que ficam o tempo todo me dizendo muita coisa. Como eu devo agir, falar e gostar. Minha vontade é sair de tudo isso. Não aguento muito tempo gente falando. Gosto que me escutem, gosto de escutar. Mas é na minha solidão que me encontro. Gosto de sentar e ouvir minha avó contar suas histórias. São tão clichê que me dá nostalgia. Realmente meu amigo tem razão. Não estou na época certa. Mas paciencia, é isso que me pedem o tempo todo e como o que me pedem não sei cumprir fico impaciente e jogo tudo para o alto. Sou boa nisso, sou boa em começos, mas não sei dar continuidade em nada. Eu não quero mais e acabo pedindo por muito mais...
Não é esse, não é aquele. Não é nada disso e nem deveria ser. O que posso fazer se não gosto de água com açúcar?

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O dia que não terminou

É um dia frio e nublado, triste como são os de outono. O vento parece cortar o rosto e as ruas estão vazias, não há gente, não há sentimento, só existe o silêncio. Caminho solitária observando o vazio.
Do outro lado da rua ainda há movimento, mas não vida. Um homem caído no chão, jogado com um revólver apontado para sua cabeça. O policial pisa em seu corpo tremulo mostrando quem é que manda por aqui.
Imagino como deve ser o mundo visto por outro plano. Penso no que o homem deitado no chão está pensando naquele momento. Ele é também uma vítima desse mundo, da injustiça que se move rapidamente como um vendaval e da desigualdade que faz desse mundo um lugar tão brutal. Não consigo ter raiva, mas ter pena não resolve.
Fico parada, inerte, observando uma cena que não parece real e que não faz parte do meu mundo. Sou um ser alienado que não entende. O camburão chega e o homem é jogado no carro. O que é que a gente faz, quando um grito rouco tem vontade de sair e dizer tanta coisa? Meus pensamentos vão longe, como de costume e começo a pensar na vida desse corpo atirado como lixo no camburão. Como será sua vida? Será que tem filhos? Será que roubou para alimenta-los? Imagino a vida de quem tem pouco e ve tantos tendo muito. Não é certo, não é justo e mesmo assim continuo parada apenas observando.
Começa a chover. Corro para minha casa. Lá o tempo parece não passar e o mundo se torna muito distante. Meu pai lê seu jornal, minha mãe assiste televisão. A realidade some. Lá fora o homem está a caminho da delegacia e alguém em algum lugar espera por ele. A chuva, cada vez mais forte, não deixa ninguém enxergar...

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