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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Na casa da minha avó o quintal era grande. Os almoços de domingo terminavam com discussões fervorosas. Não tinha hora para dormir e muito menos para acordar. As brincadeiras duravam dias e o fim de semana tinha gosto de miojo e cheiro de bala de açúcar.
Os personagens dessa casa que hoje já não existe, eram muitos. Na mesa redonda da sala de jantar sempre tinha espaço para mais um e a escada vasada era o camarote para as crianças participarem das conversas dos adultos. Os protagonistas desse conto de infância eram quatro. Nós quatro. Primos e irmãos que dividiam segredos, histórias, fantasias, brincadeiras.
Hoje, sentados na mesma mesa redonda recordamos o que fomos. Não se fala do que somos. Cada um de nós guardou um pedaço de uma colcha de retalhos que foi a nossa infância. Minha prima criadora, meu primo só sorriso, meu irmão cuidados, eu sonhos. Éramos a mistura de uma família unida e dividida. Contraditória. Somos o resultado de finais de semana e férias juntos. São a minha história. A causa da difícil missão que foi crescer.
Sou a caçula. A última a saber que papai noel não existia. A primeira a seguir os três com total confiança. A herdeira de brinquedos e brincadeiras. A última a fechar a porta da nossa infância. Quando minha prima cresceu e disse que já não tinha idade para brincar, chorei. Choro com raiva da desilusão. E a promessa de que nunca cresceríamos? Ilusão. Das sopas feitas de plantas do jardim, dos filmes, jogos, esconderijos, gritos, guerras, aventuras, restaram quatro adultos totalmente diferentes. Seguimos caminhos opostos. Vivemos longe um do outro. Não existe mais almoço de domingo e os encontros duram três horas.
Quando eles se despediram da infância, um de cada vez, fui guardando comigo a promessa que eles não cumpriram. Não cresceria. Brinquei sozinha, tentando lembrar das histórias que me foram contadas e na minha ingenuidade de criança não percebi que o tempo passou e que eu também não pude cumprir a promessa.
Meu primo, dono de olhos que tem sorriso próprio, casou. No altar, lá estavam os quatro novamente. Dividindo nossas histórias mais uma vez. Minha família. Só a gente sabe a dor e a delícia de carregar o mesmo sobrenome. Somos o elo com o passado, os responsáveis por novos almoços de domingo e a certeza que a história de nossa família ainda vai longe. Meu amor dividido em três pessoas que formam um mosaíco cheio de momentos inesquecíveis.

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