Total de visualizações de página

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O dia que não terminou

É um dia frio e nublado, triste como são os de outono. O vento parece cortar o rosto e as ruas estão vazias, não há gente, não há sentimento, só existe o silêncio. Caminho solitária observando o vazio.
Do outro lado da rua ainda há movimento, mas não vida. Um homem caído no chão, jogado com um revólver apontado para sua cabeça. O policial pisa em seu corpo tremulo mostrando quem é que manda por aqui.
Imagino como deve ser o mundo visto por outro plano. Penso no que o homem deitado no chão está pensando naquele momento. Ele é também uma vítima desse mundo, da injustiça que se move rapidamente como um vendaval e da desigualdade que faz desse mundo um lugar tão brutal. Não consigo ter raiva, mas ter pena não resolve.
Fico parada, inerte, observando uma cena que não parece real e que não faz parte do meu mundo. Sou um ser alienado que não entende. O camburão chega e o homem é jogado no carro. O que é que a gente faz, quando um grito rouco tem vontade de sair e dizer tanta coisa? Meus pensamentos vão longe, como de costume e começo a pensar na vida desse corpo atirado como lixo no camburão. Como será sua vida? Será que tem filhos? Será que roubou para alimenta-los? Imagino a vida de quem tem pouco e ve tantos tendo muito. Não é certo, não é justo e mesmo assim continuo parada apenas observando.
Começa a chover. Corro para minha casa. Lá o tempo parece não passar e o mundo se torna muito distante. Meu pai lê seu jornal, minha mãe assiste televisão. A realidade some. Lá fora o homem está a caminho da delegacia e alguém em algum lugar espera por ele. A chuva, cada vez mais forte, não deixa ninguém enxergar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores