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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tenho um novo costume. É que preciso de novidade, não só por mim, mas pelos que estão a minha volta. Essa é uma forma do meu tédio não se transformar em surto, noia, brigas e afins. Só estou preservando minhas relações quando resolvo ter uma nova mania. Não escolho ela, simplesmente aparece eu vou indo, até me cansar...Gosto de conversar com pessoas que não conheço. Pode ser de qualquer lugar, mas meus preferidos são os taxistas e aqueles caras que ficam  do outro lado do balcão servindo uma cerveja ou pinga para aqueles seres tão solitários dos botecos dessa cidade. A conversa varia, pode ser sobre futebol, desilusões amorosas ou o que virou notícia no jornal. Confesso que meus temas favoritos ainda são os dois primeiros. Primeiro porque conheço pouca gente que não goste e futebol e acho que não conheço ninguém que nunca tenha amado. Chego a conclusão que futebol e amor combinam, bom, pelo menos em conversas jogadas fora...
Quando eu era mais nova não gostava de entrar em táxi sozinha. Achava uma intimidade meio forçada, duas pessoas que não se conhecem sozinhas em um ambiente fechado. Ainda tenho um pouco de medo dessa situação, mas quando o assunto flui esqueço esse meu pensamento medroso. Só comecei a me sentir mais segura nessas ocasiões quando morei em Buenos Aires. Era só entrar em um taxi que a conversa já estava preparada na ponta da língua do taxista, no começo eu meio tímida e não querendo mostrar meu sotaque só falava meu itinerário e fingia indiscretamente que lia algum livro ou que estava muito ocupada com meus pensamentos, mas fui tomando gosto pelas conversas que vinham de seres que eu nunca tinha visto e que provavelmente nunca mais iria ver. Os assuntos variavam, política e futebol eram os assuntos preferidos. Aprendi sobre todos os times do campeonato "Clausura" e entendi sobre um governo tão contraditório. Algumas corridas paravam na porta de casa e o assunto não terminava, era uma pena, são tristes estes cortes brutos.
Aqui no Brasil não conheci taxistas tão animados a falar quanto os porteños, mas as vezes dou sorte e encontro algum que sabe como começar um assunto sem cair no vazio. Começando quase sempre pelo tema futebolistico e indo para divagações sobre a vida.
Conheci um, certa vez, que adorava signos. Assim que entrei no carro disse: "Ariana não é?". Já me impressionei com a abordagem para início de diálogo e até pensei em fazer um caminho mais longo. Respondi com um sorriso que dispensária qualquer resposta falada, me orgulhando do fato de ser ariana. O senhor então sentado a minha frente com atenção firme ao trânsito apenas respondeu. "Coitado dos que vivem com você." Disfarcei meu desapontamento questionando o porque de tal afirmação injusta. "Ariana é mulher difícil. Complicada demais." E por mais que eu tentasse entrar em temas mais amenos ele conseguiu fazer uma boa análise de mim apenas pelo signo. Acho meio bobo esse negócio de mapa astral, signos, ascendentes, mas admito que em grande parte ele estava certo.
Outro dia entrei em um táxi sem muita vontade de exercitar meu novo prazer de conversas estranhas com gente esquisita. Apenas sentei, falei para aonde queria ir e me calei. Deixando aquele silêncio desconfortável tomar conta da situação. Mas esse era um daquelas pessoas que te amarram na conversa sem que você perceba. Eu caladinha noto que sou observada e antes que possa vir aquele meu medo infatil da inimidade forçada o cara de cabelo bem preso em um rabo de cavalo comprido e cacheado já dá a introdução a um tema polêmico. " É você tem o coração na sola do pé."
Queria uma definição para tal expressão. Simples, ele assim que me observou já tirou a conclusão, sem saber meu signo, de que eu chutava corações.
Se o que ele queria era uma conversa amena sobre a vida e os amores, ou sei lá o que, recebeu uma tonelada de informações que desmistificavam a impressão que ele tinha a meu respeito. Não adiantou muito eu contar meus casos amoros, minhas dores de amor. As conclusões dele só pioravam. "Nossa, mas você é muito complicada menina. Não é culpa desses seus mocinhos não. Você não termina nada que começa." Nessa hora eu achei que meu pai o havia contratado para ter uma conversinha comigo.
Então ele me contou sobre sua vida, sua mulher, seus amores. Sobre a hora em que ele descobriu quem era o amor de sua vida e essas histórias que só me distanciam mais ainda desses romances água com açúcar em que é preciso inventar um caos para ter graça.
Chegamos ao meu destino. Paguei, agradeci pela conversa e sai no meio de uma chuva forte. De dentro do carro o taxista viu uma menina vestida para uma festa de alegria forçada. Cabelo já desarrumado, maquiagem já borrada. Comecei a andar para a festa ele ainda abriu a janela do táxi para sua última grande conclusão. "Você deve ser cruel. Menina complicada você. Só que está carente e mulher carente fica com esses caras que não entendem nada. E você pode me contar o drama que for. Quando te olham sabem que você tem o coração na sola do pé."
O carro se afastou e eu fiquei lá, na chuva...Tentando entender a minha natureza complicada que se fecha com medo de machucar e acaba se machucando para evitar a minha essencia. Destruo o que construo. Como brincadeira de lego perco as peças e acabo com construções vazias.

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