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quarta-feira, 11 de abril de 2012

A menina olhou desconfiada para o caixão e então puxou a saia de sua mãe e perguntou:
- Mãe, como ele sabe que morreu?
A mãe abaixou e olhou nos olhos de sua menina e com pesar disse que ele não sabia que já não vivia.
A menina ávida por entender a vida não se conformou com a resposta. Quis saber ainda:
-Mas para onde é que ele vai?
A mãe, sempre tão cheia de respostas certeiras acariciou os longos cabelos de sua filha e respondeu que ele foi morar em uma casinha junto com uma senhora chamada Saudade. Dessa vez, a pequena parecia ter se conformado com a resposta.
Achou a palavra "saudade" engraçada mas não entendeu o que ela significava.
Certo dia a mãe pegou sua filha observando através da janela e se sentou ao lado para tentar entrar nos pensamentos da garota.
A menina então quis saber aonde é que essa senhora chamada Saudade morava e a mãe com lágrimas nos olhos respondeu que a Saudade morava em todos os lugares. Aonde a gente menos esperava lá estava a Saudade. O pensamento da menina foi óbvio.  "Já que ela está em todo o lugar eu posso visitar aqueles que moram lá." E a mãe sorriu. É claro que podia visita-los, mas a Saudade não deixava ninguém entrar na sua casa. A não ser aqueles escolhidos.
A pequena suspirou e pareceu desta vez ter finalmente entendido. E a mãe deu o assunto por encerrado.
Essa Senhora Saudade, era muito malvada pensou a menina. Afinal, levava quem ela gostava embora e não avisava aonde morava. Encontrou então, sua avó olhando um retrato branco e preto, tocou suavemente no ombro da anciã e viu nos olhos mareados daquela senhora a casinha tão escondida da Saudade.
- Vó, como é que a gente faz para espantar essa tal Saudade ?
A avó sorriu com uma leve tristeza. Agarrou com força o retrato e disse:
-Eu tento espanta-la a muito tempo e toda vez que eu acho que ela finalmente foi embora, alguma coisa me faz lembrar e ela volta, mais forte ainda, com mais vontade de ficar.
A menina foi crescendo e aos poucos a Saudade começou a visita-la e ela então entendeu o que era aquilo que lhe doia no peito, mas que muitas vezes era gostoso de sentir. Foi então, aprender que a Saudade era algo bom, era algo que deixava vivo o que foi embora, que trazia lembranças que não se esquecia. Não se sente saudade do que não era bom, não é mesmo?
Quando mais tarde sua filha lhe perguntou como a pessoa ali deitada no caixão sabia que estava morta a mulher viu nos olhos de sua filha o nascer da Saudade e lhe explicou que ela só não estava mais presente e que continuaria viva para sempre dentro dela. afinal a saudade não deixa certas coisas irem embora.

Dedico este texto para todos aqueles que plantaram dentro de nós a semente da saudade. Especialmente para alguém que se foi antes da hora, que em um piscar de olhos deixou planos, metas, amores, amigos e muita dor para quem ficou. Espero que com o tempo exista essa saudade gostosa de sentir, porque por enquanto ela ainda é cruel e maltrata.
Que mesmo sem saber a resposta a gente compreenda que ele segue vivo dentro de cada um que nunca o esquecerá. Talvez essa seja a função da saudade...fazer com que as pessoas sejam eternas dentro de nós.

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