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quarta-feira, 15 de maio de 2013

O futebol para uma menina

Você não pode gostar de futebol. Você é menina. Indaga meu amigo, no caso homem e que abomina futebol, com sua visão machista sobre um dos esportes mais populares do mundo. O fato é que cresci acompanhada desse jogo que paraliza multidões. Domingo em casa é dia de ver meu pai em frente a televisão assistindo qualquer campeonato que seja. Desde a série A até a série Z e não precisa nem ser jogo nacional. Na tela, só futebol e nem pensar em mudar a rotina de um homem fanático.
Quando era pequena cheguei feliz em casa e anunciei ao meu irmão. "Agora sou palmeirense!" "Cala a boca menina." Disse meu irmão já irritado. "Por que você é palmeirense?" A verdade é que havia escolhido o time não põr adoração ao clube, mas porque era completamente apaixonada por um menino da minha sala que só usava camisa verde e branco. "Quer dizer que você escolhe time por causa de homem? Deixa de ser idiota. Você é são paulina e ponto final." Entendi, aceitei e desde então sou são paulina convicta, por causa do meu irmão, ironicamente.
Confesso que pouco sei sobre futebol e nem tentem me explicar sobre essa misteriosa linha de impedimento que corta o meu grito de gol pela metade diversas vezes. Isso é algo que simplesmente não entra na minha cabeça. Aprendi vendo meu pai e meu irmão a gostar de campeonato. Paulista, Brasileiro e a tão adorada Libertadores. E eu que sempre quis fazer parte das conversas deles fui me familiarizando com o tema. Sim, aqui no Brasil sou tricolor paulista, amado clube brasileiro, mas não me perguntem a escalação completa do meu time. Só sei o nome dos grandes destaques e é claro, dos mais bonitinhos. Aliás, era assim que meu irmão me ensinava sobre o time que nos liga. "Esse ai, joga muito e você vai achar ele bonitinho...Guarda o nome." Era uma boa aluna, lembro com carinho do grande Leonardo, do gatinho do Kaká e do mais recente de todos, o jogador com nome de personagem de novela mexicana, Rodrigo Caio. Se joga bem ou mal não sei, para crítica de futebol não levo jeito.
Minha família tem tradição em ser fanática por futebol. Na Argentina, origem da minha história, as palavras, futebol, tradição, paixão e família caminham juntas. Somos todos "cuervos". Integramos o único time argentino que pode se orgulhar de bater o conhecido Boca Juniors em quase todos os jogos disputados. Somos do bairro de Boedo, bairro descontrolado que em dia de título, para a avendida principal para dizer orgulhoso "Soy de San Lorenzo." Meu avô é o culpado. Ainda hoje aos oitenta e poucos anos de idade vai sozinho ao estádio acompanhar o time. E eu me lembro ainda bem pequena de estar no meio da multidão gritando aos quatro ventos o meu amor e a minha fidelidade a um time que passava por nós com o peso de todo aquele amor nas costas.
Por falar em multidão acredito que gosto mesmo é da torcida. Não do jogo em si. Em dia de decisão gosto de ver a cumplicidade com que os torcedores se olham e se insentivam. Que sensação boa a de torcer por algo em comum, a de ver todos vestindo a mesma camisa. Dia de ir em estádio me fascina. Me desculpem novamente os bons entendedores, mas na hora do gol eu gosto mesmo é de olhar para a torcida. Todo aquele mar de gente gritando, formando uma voz única que explode em euforia. Os abraços calorosos, os rostos emocionados. O canto de alegria. Quem nunca foi a um jogo não sabe o que é pertencer a algo.
O futebol na televisão me entendia um pouco, então fui me aprimorando e hoje gosto de escutar jogo na rádio. Qualquer lance é fenomenal, qualquer bola na lateral é quase gol. E qualquer bola murcha é motivo para piadinhas infames dos comentaristas.
Fui também a única torcedora fiel ao time do colégio em que estudei. Não perdia um jogo. Ia escoltada pelo time e sabia de todas as jogadas ensaiadas. Não era por amor ao futebol não. Era amor ao camisa 7 do time e que por sorte minha e alegria do meu irmão, era são paulino. Foi com ele que aprendi que futebol e mulher não se misturam e nem adianta virar rival do joguinho semanal. É melhor ser cumplice, entender do jogo, saber que quarta feira é um péssimo dia para discutir relação e que puxar assunto durante uma partida é a forma mais fácil de se iniciar uma briga.

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