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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os quadrinhos de nosso quadro de lembranças

Não me esqueço do dia em que fui me despedir da casa em que passei minha infância. Já era adolescente, mas a tristeza daquele Adeus imposto não foi fácil. Mas que despedida é?
Encontrei em uma caixa abandonada os gibis que compartilhava com meus primos e irmão. Li e reli cada um deles diversas vezes e busquei a criança que fui perdida naquelas páginas. Não achei, mas me encontrei ali na varanda dos meus sonhos abandonada na realidade.
Os personagens que embalaram os dias de chuva em que eu, entediada, dava vida a histórias que prometiam mudar o mundo, ou pelos aquele dia cinzento, pareciam ter parado no tempo. E como é bom poder voltar no tempo e enxergar a casa vazia, cheia novamente.
 Meu tio tinha a coleção completa do Homem Aranha e eu, sendo a única menina, tive que aprender a gostar daquele super heroi que me parecia tão sem graça com máscara. Via meus primos entretidos, praticamente dentro daquelas histórias. Fui pouco a pouco tentando descobrir o fascinio daquela leitura. Engraçado que eu só conseguia ler as partes em que o destemido herói era uma pessoa normal, igualzinha a mim, com medos, receios, família, dilemas e um grande amor que a princípio parecia platônico. O melhor mesmo era quando aparecia Mary Jane, com os cabelos ruivos,  trazendo sentido a todas aquelas histórias de bandidos, crimes, castigos...Pois é, ela trazia humanidade ao herói aracnídeo. Ela compunha a parte que eu gostava...o romance. Não apenas isso, Mary Jane era apaixonada tanto pelo herói quanto pelo homem, o sem graça Peter Park. E me cativou pela história de amor enredada com o tempo. Lia os gibis ansiosa para saber. Afinal eles ficam juntos? Os protagonistas vão finalmente perceber que não importa a máscara, eles se amam pelo que são? Cresci sem saber se eles no fim daquela imensa coleção ficavam juntos ou não. Talvez essa seja a graça até hoje, não saber. Porque as grandes histórias de amor não devem nunca ter fim, pensava eu quando criança e penso eu agora adulta.
O fato é que  os personagens que fizeram parte de nossa infância costuram nossas vidas. Ao reler cada gibi amarelado, abandonado por nós, crianças já grandes, pude ir me despedindo da casa, dos móveis e da saudade premeditada. Era como abrir cada página e lembrar de algo...uma risada, um medo noturno, um segredo, uma aventura. A cada página virada eu fui me despedindo daquele lugar, do paraíso perdido. E com nostalgia escutei pela última vez a porta daquele lugar sendo fechada.
Não levei nenhum dos gibis comigo e acredito que ninguém que passou por aquela casa tenha levado isso como recordação, mas o Homem Aranha ainda é lembrado por mim nos dia de chuva ou quando passo na banca de jornais e vejo aqueles desenhos cada vez mais elaborados e distantes da realidade. Como era bom ser criança e como era lindo acreditar que a debilidade daquele super herói era o amor.

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