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domingo, 16 de outubro de 2011

Quando recebi o e mail dizendo que seria a paraninfo de uma das salas que se forma esse ano, não pude conter a emoção. O que toca o coração do futuro? Não sei explicar ao certo o que vejo nos diversos rostos que me olham com atenção, ou não, nas manhãs de espectativas, frustações, risadas e criações.
Sei que o trabalho de um professor não acaba quando bate o sinal que alivia o momento de espera das crianças que querem correr livremente pelo pátio em que um dia eu também corri. Quando todas aqueles olhos que tanto gosto de decifrar me deixam na sala vazia fico a pensar em todas as informações que recebi e fico com medo. Tenho medo de me acostumar a esses olhares e não conseguir mais tentar entende-los.
Como ser o professor amigo e não o amigo professor? Como estabelecer um limite quase imperceptivel com os alunos? Não sei fazer isso. E será que deve existir tal limite? Digo o limite de envolvimento, porque sinceramente não me digam que o professor não pode se envolver porque para mim isso é tirar a vida de quem leciona.
Cresci muito próxima ao ambiente escolar, ainda hoje vejo tão próximo de mim minha avó que ainda tem saudade de sua época como educadora.
O fato de estar tão próxima dos meus alunos me dá o privilégio ou talvez o peso de saber demais sobre cada um deles e embora eu finja que o que eles me contam não choca, choca e muito. Imagino cada um deles como um filho que deixo solto no mundo pronto para viver as inumeras experiencias da vida, mas que com receio sei que muitos não vão voltar a me procurar.
Drogas, amores, rebeldias fazem parte da vida de qualquer adolescente, mas como fazer com que isso seja apenas passageiro e não deixe marcas tão grotescas em suas histórias?
Não, falar não adianta. As vezes quando falo sobre assuntos que embora sejam trabalhados constantemente nas escolas ainda seguem sendo tabus, sinto-me uma velha dando sermões e não uma mulher de 23 anos que recentemente passou pelas mesmas aflições destes adultos prematuros.
O jeito é mostrar, e ai entram minhas aulas. Não sou pedagoga e tão pouco tenho a pretenção de ser. Também não sou terapeuta e sei que me faltam estudos para lidar com a demanda de sentimentos que são atiradas em minhas aulas. O fato é que gosto de criar um refúgio distante do mundo que pede tanto o tempo todo. Em uma hora é difícil dar a atenção que gostaria de dar.
O teatro busca a forma de expressão e quanto a isso meus alunos não deixam a desejar a todo momento se expressam, gritam euforicos ou choram desconsoladamente. Cada um da sua forma está o tempo todo querendo dizer algo. Tem aquele mais quietinho que não se manifesta nunca, mas que pelo olhar doce sei o quanto diz e tem aquele mais extravagante que grita, quer ser o centro das atenções e do mundo. Para todos eles há um espaço nas aulas que muitas vezes são turbulentas.
O fato de conhecer muitos deles desde pequenos e ve-los agora escolhendo rumos que eu não seguiria para suas vidas me assusta. Sofro calada as mudanças que vejo transformarem olhares doces em olhares de rebeldia ou apatia. O engraçado é que me identifico de modo particular com cada um deles. Me comovem as aflições e diversas vezes me misturo de tal forma com eles que chego a me perder.
Existe em cada um deles um professor pronto para me dar uma aula de vida e me mostrar o quanto me falta entender, principalmente sobre meus próprios sentimentos.

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