Total de visualizações de página

quarta-feira, 7 de março de 2012

Chego em casa...Cadê? No lugar em que ele costumava ficar está apenas o vazio. Minha reação é até um pouco fora da realidade para quem ve de fora. Não, não estou falando de alguém querido que se foi. Estou falando de uma coisa querida que se foi, apenas um carro.
Então, como explicar a sensação que senti ao escutar a notícia seca, sem sentimento algum de que ele havia ido embora.
Meus olhos se encheram de lágrimas e sem que eu conseguisse controlar as gotas salgadas invadiram meu rosto..."Você é doente". Este foi o consolo de meu pai. Afinal, é apenas um carro, um objeto e eu não nego que seja isso. É um objeto, um objeto simbólico de tanta coisa...Novamente meu pai não aceita a minha explicação para o choro contido e com sua sensibilidade aflorada responde; "Você é descontrolada". E me entrega uma sacolinha impessoal com todas as coisas pessoais que guardava dentro daquele meu companheiro...Meu pai já sem paciência para o drama vai saindo de cena...Consigo ainda falar "Mas eu nem me despedi dele". Nessa hora meu pai já largou mão de escutar meus lamentos e volta para o seu futebol de quarta-feira.
Perco até a vontade de saber qualquer placar, pego a minha sacolinha com tudo que juntei durante anos e me fecho no quarto.
O que é que está acontecendo comigo? Não tenho nem coragem de ver o que restou dele. Dou uma espiadinha na sacolinha e vejo meu caderno de anotações, aquele companheiro de trânsito lento, que em momentos de inspiração me ajudou tanto. Está ali...jogado, largado.
Tento me acalmar, afinal, é só um carro. Obviamente isso não me acalma. Que importa que seja só um carro? Me importa o que eu vivi com ele, dentro dele ou fora..não sei... Só sei que minhas lembranças eu não coloco assim a venda e sinceramente elas valem muito mais...
A nostalgia vai tomando conta de mim. Me vem na cabeça a primeira raspadinha na garagem, a primeira batida violenta na avenida. É até que ele me aguentou bastante. Os lugares que fui, as caronas que dei, as fugidas, as músicas que pediam para que eu abrisse a janela e deixasse o vento entrar. Os caminhos que ele já sabia de cor...Bobagens, apenas bobagens..Mas quando dou por mim, lá estou eu, novamente olhando o espaço vazio na garagem. E as imagens aparecem me dando susto, vem sem pedir licença e me dão soquinhos na boca do estômago. Aparecem como em filmes as cenas dos primeiros beijos, dos últimos beijos, dos abraços de chegadas e de partidas...O nó na garganta vai se apertando, me vem uma saudade, uma vontade de que as coisas não mudem e de que o tempo não passe.
Dá para esperar um pouquinho? Eu preciso de tempo, não sou boa para despedidas...
Pego um CD com o título obvio de "CD carro" e coloco para tocar. Aí é tortura com meu pobre coraçãozinho que se fragiliza facilmente. Escuto, escuto minha voz de ontem, meus amores do passado, alguns ainda presentes, minhas amizades conquistadas, meus medos, minhas vontades. Aquela sacolinha entregue com tanto desdem vira meu tesouro...
Que estranha essa minha mania de colocar sentimentos em tudo. Me sinto culpada, será que esse meu parceiro não se sentiu usado? Mas que bobagem, é apenas um carro, apenas um carro..Mas, eu não tive a chance de me explicar...Que bobagem...é apenas um carro. É, eu sei disso, mas também sei que não é fácil assim de se desfazer de lembranças e isso, isso não é bobagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores